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O meu mundo de criança sempre foi rodeado por animais e natureza e isso fazia tudo se tornar mágico. Eu sempre fui verdadeiramente eu quando estava perto dos meus cães, e pela metade perto de pessoas. Quando chegava o fim-de-semana, saía de Lisboa e fugia para o campo.

Estava sempre desejosa de brincar na terra e encher me de lama. Chapinhar nas poças com as minhas galochas azuis e apanhar tangerinas. Mas mais que isso, o que eu queria mesmo era passar dois dias inteirinhos com o meu pastor e melhor amigo, o Botas.

Vi-o pela primeira vez à porta da escola, pela mão da minha mãe. Ele era uma bolinha de pêlo ainda com as suas orelhas moles e tortas. Era o meu Botinhas. O meu coração bateu tão forte que acho que ia caindo de tanto correr.

Eu não ligava a gomas, a idas ao cinema, a comprar brinquedos ou bonecas. Felicidade para mim era brincar com o Botas até não poder mais. Passávamos muitas horas juntos e tínhamos uma amizade e cumplicidade ímpar.

Sem saber, a minha dedicação e cumplicidade tornavam-no obediente e com um caráter super estável e meigo. Eu, na realidade, não sabia nada científico para o ensinar, mas a minha simplicidade de criança e o tempo que eu lhe dedicava com alegria e companheirismo eram suficientes para que ele gostasse de mim e viesse sempre quando o chamava.

 Não entendia porque havia crianças que tinham medo ou não queriam fazer-lhe festinhas. Se ele era o meu melhor amigo e nunca me faria mal, porque faria a alguém? Às vezes na escola sim, havia crianças más umas para as outras e adultos que nos viam como um número apenas. Mas os meus cães não. Eram sinceros e faziam-me sentir especial.

Fomos vivendo uma amizade muito bonita e inesquecível. O tempo foi passando e o Botas adoeceu. Passou momentos de dor mas nunca se queixou. O que ele queria era estar perto de mim e tentava superar naquele momento a sua doença. Já quase não se mexia e há mais ou menos uma semana que não saía de um estaleiro fresco que lhe dava mais conforto.  No entanto, no dia dos meus anos, em Julho e com um dia quente de Verão no Ribatejo, com a família à minha volta e um bolo prestes a ser acendido, ele percorreu a distância que nos separava e lá estava. Ainda deu muitos passos, lentos e com muito custo e mesmo cheio de calor, deitou-se ao meu lado e esperou que me cantassem os parabéns. Olhou para mim e voltou para o seu canto, cheio de dores… pouco tempo acabou por morrer.

Foi a despedida mais bonita que alguma vez tive. A mais verdadeira.

Que saudades meu amigo,

Sempre tua, Susana

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